("O Largo do Camões"; fotografia de Jorge Alfar, no Olhares. Todos os direitos reservados)
Sempre que por qualquer motivo paro nesta praça, lembro-me dos fins de tarde em que nela esperei por ti, por o prazer de caminhar contigo um bocado enquanto íamos para casa, de ter a tua companhia nem que fosse por alguns minutos apenas. Sabia já nessa altura que era impossível, que em breve partirias e que talvez não te tornasse a ver. Mas esperava por ti à mesma, na praça. Saboreava cada bocadinho contigo como se fosse o último. Deliciava-me com o teu sorriso. E apesar de nada se ter concretizado, e de teres desaparecido de forma mais absoluta do que alguma vez julguei possível, a memória persiste. Ainda hoje me deixa um sabor especial nos lábios, simultaneamente doce e amargo. Doce por tudo o que aconteceu, e que poderia ter acontecido. Amargo por a forma como tudo acabou por se desenrolar. A vida por vezes pode ser particularmente cruel e implacável.