(Fotografia de autor desconhecido)
É talvez a minha mais antiga ilusão: pensar que, apesar de tudo, seria possível recuperar por completo uma amizade após uma relação amorosa, ou até que seria possível essa amizade fazer esquecer o que em tempos houve. Não é, nunca é: há memórias que permanecem, feridas que não saram; mesmo que não sintamos dor, mesmo que queiramos ignorar as memórias, há sempre algo, uma barreira muito ténue, entre nós e a outra pessoa. A amizade pode regressar e ser sincera, mas será sempre uma sombra ou da amizade que foi, ou da amizade que poderia ter sido. Poucas emoções são tão absolutas como o amor, que não permite qualquer meio-termo: ou é tudo, ou é nada, e quando é nada, o caminho que se segue é feito sempre sobre os destroços. Podemos falar com a outra pessoa, sair com ela rirmos juntos com gosto; mas sabemos sempre que, lá bem no fundo, houve algo que se perdeu e que jamais será recuperado. A verdade é que nunca deixamos de amar quem amámos, pois há uma bocadinho desse amor que fica para sempre, como um espinho debaixo da pele; e se assim é, jamais uma amizade poderá ser inteira e descomprometida.